Skip navigation.
Home
Seguindo a estrela de Belém

Eucaristia - Centro do Coração

"Manete in me"           "Permanecei em mim”

O coração humano pede um centro de afeição e de expansao. Deus, ao criar o primeiro homem, declarou: "Não convém que o homem fique só; façamos-lhe uma companheira que lhe seja semelhante". E a Imitação diz: "Sem amigo, não saberás viver feliz".

Pois bem, Nosso Senhor, no Santíssimo Sacramento, quer ser o centro de todos os corações: “Permanecei no meu Amor. Permanecei em mim". E que é permanecer no Amor de Nosso Senhor? É fazer deste Amor, que vive na Eucaristia o centro de nossa vida, o centro único de toda nossa consolação, nas tristezas, nas aflições, nas decepções, nos momentos em que o coração se entrega e se abandona. É - a tal nos convida Ele - lançar-se no Coração de Jesus: "Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei".

É, no gozo, referir a Nosso Senhor toda felicidade - não manda a delicadeza repartir com o amigo toda alegria? É fazer da Eucaristia o eixo dos nossos desejos: "Meus Deus, só quero isso se Vós o quiserdes e faço isso para vos dar prazer”. É gostar de fazer a Nosso Senhor a surpresa de uma dádiva, de um ligeiro sacrifício. É viver pela Eucaristia, guiar-nos nos seus moldes, antepondo seu serviço a tudo o mais, e isso invariavelmente. Ai de nós! será em verdade Jesus nosso centro?

Talvez, nas aflições extraordinárias, nas orações fervorosas, nas necessidades prementes; mas na vida comum, pensamos nós deliberadamente em Jesus como se nosso centro fosse - e por que não o será - procedendo de acordo?

É porque não é ainda o eu do meu eu, é porque não me pus ainda inteiramente sob seu domínio nem me entreguei às inspirações do seu bel-prazer; é porque tenho desejos em luta, que rivalizam com os de Jesus em mim. Não, Ele ainda não é tudo em mim. Mas não trabalha o filho para seus pais, o Anjo para seu Deus? Não devo eu, portanto, trabalhar para Jesus Cristo, meu amo?

Que fazer então? Entrar nesse centro, nele permanecer e obrar. Não pelo sentimento de sua doçura, que não depende de nós, mas chegando-nos a Ele repetidas vezes, oferecendo-lhe a homenagem de cada uma das nossas ações. Coragem! ó minha alma! Sai do mundo, de ti mesma. Abandona-te. Vai ao encontro do Deus da Eucaristia, que tem uma morada para te receber. Ele te ama, quer viver contigo, viver em ti. Vive, portanto, em Jesus
presente no teu coração, vive do Coração, da Bondade de Jesus-Eucaristia.

Trabalha, ó minh'alma, apoiada em Nosso Senhor em ti, fazendo tudo por Ele. Permanece nele. Vive nele pelo sentimento de devoção, de santa alegria, de prontidão, para com tudo o que te pedir. Permanece no Coração e na Paz de Jesus-Eucaristia.


II

O impressionante é que esse centro da Eucaristia é centro oculto, invisível, todo interior e, ao mesmo tempo, verdadeiro, vivo, nutritivo.

Jesus atrai espiritualmente a alma ao estado espiritualizado que é o seu no Sacramento. Qual é, com efeito, a Vida de Jesus no Santíssimo Sacramento? É toda oculta, toda interior. Encobre seu Poder, sua Bondade, sua Pessoa
Divina. E todas as suas ações, todas as suas virtudes, adquirem um mesmo caráter simples e oculto.

Em redor, pede silêncio. Não roga mais ao Pai por entre suspiros e brados, como no Jardim das Oliveiras, mas sim pelo seu próprio aniquilamento. Da Hóstia emanam todas as graças; da Hóstia Jesus santifica o mundo, porém, de modo invisível e espiritual e, sem abandonar o lugar de repouso, sem sair do seu silêncio, governa o mundo e a Igreja.

Todo interior, tal o reinado de Jesus em mim. Preciso recolher-me ao seu lado: minhas faculdades, minha inteligência, minha vontade e, tanto quanto possivel, meus sentidos. Preciso viver de Jesus e não de mim, em Jesus e não
em mim. Preciso rezar com Ele; imolar-me com Ele; consumir-me num único Amor com Ele até constituir, com Ele, uma só chama, um só coração, uma só Vida.

E o alimento desse centro não é outro que o egredere de Abraão; é o despojamento, o abandono no exterior, a dimanação no interior, a perda em Jesus, vida essa que mais agradável é ao seu Coração, que mais honra ao Pai. Nosso Senhor, desejando-a ardentemente, diz-me: "Sai de ti mesmo, chega-te à solidão comigo e, a sós, te falarei ao coração". Ah! essa vida em Jesus é o amor de predileção, a excelência do amor, é o dom de si, é o
trabalho da união. Viver assim é criar raízes, é preparar o alimento, a seiva da árvore: "Regnum Dei intra vox est". O reino de Deus está dentro de vós.


III


E não há outro centro que Jesus, e Jesus-Eucaristia. "Sem mim nada podeis". Só Ele dá a graça, guardando para si o poder de aplicá-la, a fim de nos obrigar a vir a Ele. Quer, deste modo, firmar e alimentar sua união
conosco, e reserva-se consolação e paz para que, nas aflições e na guerra, nele - a única felicidade do coração - nos refugiemos. Quer ser Ele mesmo o único centro de repouso: "Manete in me", e para que nunca nos venha a faltar quando o procurarmos, está sempre à nossa disposição, sempre pronto, sempre amável.

Ele atrai-nos incessantemente a si. E que é a vida senão a contínua atração que sentimos para com Ele? Ai de nós, quão fraco é ainda em nós esse centro! Quão confusas, raras, longamente interrompidas são minhas
aspirações a Jesus! E todavia Ele me repete: "Quem me ama permanece em mim e Eu permaneço nele".

 

Fonte: São Pedro Julião Eymard. A Divina Eucaristia.