Ó bem de minh'alma!
Ó bem de minh'alma, onde estás?
Onde te foste esconder?
Onde encontrar-te?
Onde procurar-te?
Não vês, Jesus, que a minh'alma
deseja sentir-te a qualquer custo?
Ela te procura por todo lugar,
tu, porém, não te deixas encontrar
a não ser no extravasamento do teu furor,
preenchendo-a de extrema perturbação
e amargura, dando-lhe a entender
quanto a ti ela se destina
e quanto te pertence.
De que vale expressar a gravidade da minha posição?!
Aquilo que compreendo
ao reflexo do teu lume,
não alcanço dizê-lo com linguagem humana,
e quando tento dizer
alguma coisa, balbuciando,
minh'alma descobre que errou
e que mais do nunca
afastou-se da verdade dos fatos.
Meu amado!
Deixaste-me para sempre?!
Tenho vontade de gritar e de me lamentar
com voz superlativamente forte,
mas sou fraquíssimo
e as forças não me acompanham.
E, no entanto, o que mais posso fazer
senão fazer chegar ao teu trono
este lamento:
Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?...
Minh'alma está inteiramente derramada
sobre o quadro claro
da miséria!
Deus meu! Que eu resista
a tão trágica visão:
retire-se de mim
o teu raio reflexo,
porque eu não resisto
a tão grande contraste.
(São Padre Pio de Pietrelcina - Epistolário 1,1089-1090)